Ela não pensou duas vezes antes de dizer sim para ele. Olhou no fundo de seus olhos e entendeu que aquele momento era o ponto final da sua vida. Deram as mãos, olharam-se uma última vez. Um olhar demorado e lacrimejante, como quem pede desculpas e agradece ao mesmo tempo. Sua vida inteira havia sido construída com pilares de mentira, ódio e arrependimento. E só agora fazia sentido a ela deixar tudo isso para trás e dar um passo fatal em direção ao vazio. O vento soprou forte, gélido e fantasmagórico. Ele balançou no vértice entre o concreto e o nada. Ela manteve-se ereta e firme ao chão, algo que nunca havia conseguido fazer. Foi aí que teve a certeza de que o seu destino era o chão. Sempre fora o chão. Mesmo quando tentava fugir deste, nas alturas por entre as nuvens, iludindo-se de que poderia voar cada vez mais alto até sair da órbita, o chão permanecia lá, esperando-a, duro e tirano, para que ela se confrontasse com a realidade de que em algum ponto da vida todos iremos cair e não mais nos levantar. Eles estenderam o pé direito à frente ao mesmo tempo, como que sincronizados em suas doenças, e deram um último passo no ar, com a esperança da vida nunca mais voltar.