Já faz algum tempo que não amo ninguém e que os sentimentos que alimento são apenas os impossíveis. Desejar o outro por uma tela me dá prazer e me faz transbordar de ansiedade. A fantasia ideal. A migalha, a fagulha de esperança que o desejo e o capitalismo alimentam, eu as mantenho perto e vivas pois nesse dia-a-dia sem real propósito preciso de um conforto emocional, e quanto mais a ausência de sentido se aprofunda, mais caem as exigências.
Não amo ninguém por medo. Medo de amar a mim mesma e com isso descobrir que existe alguém com falhas e fissuras nessa armadura antes tão bem posta. Medo de desejar e conseguir. De chegar à estação final. Pra mim a linha de chegada passa a ser insuportável. Como eu posso desejar com tanta força e ao mesmo tempo ter terror do meu desejo? Deveríamos ter medo dos pesadelos, não dos sonhos.